sexta-feira, 6 de abril de 2012


Do amor (ou de como glamourizar a vida): apontamentos em torno de uma educação para a sexualidade
Jane Felipe[1]

Resumo: Este artigo pretende discutir algumas representações de amor romântico e suas interfaces na construção de gênero e da sexualidade, a partir da abordagem teórica dos Estudos Feministas e dos Estudos Culturais, numa perspectiva pós-estruturalista de análise. O modo como os sujeitos escolhem suas parcerias afetivo-sexuais, as conjugalidades estabelecidas a partir de então, bem como os comportamentos daí advindos – sentimentos de posse, ciúme, pactos de fidelidade, juramentos de amor eterno, etc - merecem ser examinados com mais atenção pelas feministas, uma vez que tais temas estão centralmente marcados pelas relações de poder entre os sexos, envolvendo questões sociais, históricas e culturais. O presente artigo objetiva ainda acionar algumas discussões possíveis no campo da educação sexual na escola, uma vez que esta, especialmente após o advento da AIDS, tem discutido a sexualidade, em geral pelo viés do medo (da doença e da morte), veiculando, muitas vezes, um certo pânico moral, em nome de uma política da prevenção. Considero importante que as discussões sobre corpos, gêneros e sexualidades no campo da educação possam ir além das preocupações mais imediatas das políticas de prevenção.
Palavras-chave: amor, gênero, sexualidade, educação sexual.
Representações de amor romântico: considerações iniciais

“Ah, minha bem amada, quero fazer de um juramento uma canção Eu prometo, por toda a minha vida Ser somente teu e amar-te como nunca ninguém jamais amou, ninguém Ah, minha bem amada Estrela pura parecida Eu te amo e te proclamo o meu amor, o meu amor Maior que tudo quanto existe, Ah, meu amor”. (Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

Pactos, juramentos, ilusões de completude e eternidade têm permeado as representações de amor romântico ao longo dos tempos. A música que introduz esse artigo, intitulada Por toda a minha vida (exaltação ao amor), de Tom e Vinícius, exalta, de forma contundente, o sentimento de amor como uma experiência profunda e arrebatadora[2]. No entanto, cabe lembrar que o tema do amor, da paixão e as relações afetivo-sexuais daí advindas estão presentes não só nas músicas - não importa o estilo ou a época - mas nos filmes, na literatura, na poesia, nas novelas, na arte de um modo geral. Esse tema também está presente nas rodas de conversas geralmente em forma de confissões pessoais ou através de uma disposição sempre curiosa de saber sobre a vida amorosa-afetiva-sexual das outras pessoas. Parece que estamos sempre em constante monitoramento, principalmente nesses tempos de transitoriedade das relações. Desse modo, não há como negar o quanto, ao mesmo tempo em que o amor pode ser considerado da ordem do privado, ele também está na ordem do público. Trata-se, portanto, de um tema muito presente nas nossas vidas, daí a importância de lançarmos um olhar mais atento sobre as representações acionadas em torno dele. O conceito de representação do qual me valho está relacionado a um amplo processo de produção de significados que são veiculados através de discursos diversos. Como aponta Tomaz Tadeu da Silva (1999, p. 200), “os significados não são criados e colocados em circulação de forma individual e desinteressada – eles são produzidos e são postos em circulação através de relações sociais de poder”. Dessa forma, representar implica em designar aquilo que conta como realidade numa determinada cultura e num determinado tempo histórico, produzindo assim conhecimentos e verdades em torno daquilo que se quer representar.[3] Em relação ao amor e à paixão, quais as representações que têm sido visibilizadas em torno desses sentimentos? Quais as perguntas instigantes que podemos fazer em relação aos modos pelos quais temos administrado nossas relações afetivo-sexuais? De que forma o amor se tornou um importante motor para a glamourização de nossas vidas, ou seja, de que maneira ele se constituiu num poderoso sentimento que dá brilho, graça, energia à nossa existência, impulsionando-nos a dar o nosso melhor para o ser que amamos, fazendo com que nos sintamos seres tão especiais por conta disso? Em que medida podemos pensar que essas representações constituem a expectativa cultural dos relacionamentos interpelando os sujeitos, independente de seus objetos amorosos e/ou sexuais? Jurandir Freire Costa (1998, p. 12), comenta que vivemos em uma sociedade que nos incita a pensar que “sem amor estamos amputados de nossa melhor parte. ... Nada substitui a felicidade erótica; nada traz o alento do amor-paixão romântico correspondido”. Por outro lado, este autor chama atenção para o fato de termos, na contemporaneidade, uma descomunal máquina de reparar amores infelizes. É cada vez maior o número de “especialistas” nesse tema, advindos das mais diversas áreas do conhecimento, tais como médicos, sexólogos, psicanalistas, cognitivistas, behavioristas, religiosos, cartomantes, astrólogos, gurus e muitos outros. Temos também uma série de livros de auto-ajuda que intencionam fazer as pessoas mais felizes em suas vidas amorosas, como aponta a pesquisa de Vera Lúcia Alves (2005)[4]. No entanto, é interessante observar o quanto o gerenciamento da vida afetiva e suas inúmeras vivências estão pautadas por relações de poder, alimentando assim desigualdades entre homens e mulheres. Por outro lado, as experiências amorosas consideradas mais “verdadeiras” e “legítimas”, por isso mesmo mais valorizadas socialmente, parecem só ter sentido entre os sujeitos heterossexuais. Soma-se a isso a idéia corrente de que a maior prova de amor que se pode dar a alguém é querer se casar, viver em co-habitação com ela. Dessa forma, o casamento parece ser o coroamento do amor, em detrimento de outras modalidades de relação[5]. O amor é tido como algo sublime, “que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, como nos ensina o texto bíblico de I Coríntios 13, versículo 7. Tal vinculação do amor-paixão-sacrifício está associada a idéia de que o amor verdadeiro jamais acaba. No entanto, talvez possamos pensar que essa representação tão idealizada do amor e por conseguinte das relações amorosas, traz consigo uma dificuldade ou mesmo uma certa prepotência de nossa parte em admitir a finitude das coisas, dos sentimentos, dos vínculos afetivos. De fato, deve ser muito difícil admitir que não seremos tão interessantes assim e por tanto tempo para alguém, da mesma forma que os outros também não o serão para nós. Por que será que ainda operamos com essa idéia de perenidade e idealização do amor? Essas e outras questões podem ser muito produtivas no sentido de pensarmos sobre o amor, a paixão e seus desdobramentos, a saber, os modos pelos quais administramos os nossos prazeres e desejos, de que forma conduzimos nossas vivências afetivo-sexuais. Tais discussões podem ser empreendidas no contexto escolar e no âmbito da formação inicial e continuada de professores/as.
E foram mais ou menos felizes... enquanto puderam!
Há alguns anos desenvolvi uma pesquisa intitulada “E foram mais ou menos felizes... enquanto puderam: problematizando as relações de gênero e sexualidade nas escolas infantis” (FELIPE, 1998). Naquela época eu estava interessada em saber quais eram as representações de masculinidades e feminilidades contidas nos livros que tratam da sexualidade voltados para o público infantil, bem como as concepções em torno das relações afetivo-sexuais veiculados por esses artefatos culturais. É importante lembrar que a partir da década de 80 do século XX houve um aumento considerável na produção de livros para esse público e um dos temas consagrados foi justamente a sexualidade, uma vez que o mercado editorial começou a perceber o quanto poderia ser rentável explicar às criancinhas os fatos da vida. Desta forma, tais livros traziam explicações sobre os órgãos genitais, concepção, nascimento, dentre outros assuntos. Alguns temas, porém, continuaram intocáveis, como violência/abuso sexual, homossexualidade, bissexualidade, masturbação. Analisando os livros foi possível perceber: 1) um forte apelo a um ideal de felicidade e completude na relação amorosa, com a clássica fórmula que se aproximava muito dos contos de fadas: e foram felizes para sempre (daí o título um tanto provocativo da minha pesquisa); 2) a concepção estava vinculada a um ideal de família – branca, de classe média, cristã, heterossexual - e de amor romântico, em especial por parte das mulheres (sempre apareciam corações ao lado delas e não deles, reforçando assim aquele clima de romantismo, geralmente vinculado ao feminino); 3) As explicações sobre concepção e nascimento limitavam-se a uma descrição fisiológica do corpo – suas transformações com a gravidez, por exemplo – sem problematizar as relações afetivas e suas várias possibilidades.
Outro motivo que me leva a estudar o tema do amor romântico refere-se a uma reflexão que tenho feito em relação à chamada educação sexual na escola. Nas instituições educativas, quando esse tema é trabalhado, em geral a ênfase recai no viés da doença, da morte, do medo e da moral (especialmente após o advento da AIDS). Deborah Britzman (1999, p. 85;90), por exemplo, refere que muitas vezes, as questões colocadas na escola sobre sexualidade ficam apenas no âmbito do certo ou errado, moral ou imoral, sem que sejam colocadas e discutidas profundamente. Ela afirma que
a cultura da escola faz com que respostas estáveis sejam esperadas e que o ensino de fatos seja mais importante do que a compreensão de questões íntimas. ...Quando, digamos, a educação, a sociologia, a antropologia colocam sua mão na sexualidade – a linguagem do sexo torna-se uma linguagem didática, explicativa e, portanto, dessexuada.
Nos cursos de formação inicial ou continuada de docentes[6], em palestras, seminários ou congressos, a expectativa dos/as professores/as e alunos/as é aprender estratégias para “apagar os incêndios”, ou seja, as perguntas sempre giram em torno do como proceder para resolver situações mais imediatas: o que fazer quando o aluno se masturba? Como agir quando a criança pergunta sobre sexo? Como trabalhar a questão da sexualidade com crianças pequenas? Quais as estratégias para desenvolver esses temas em sala de aula, ou seja, quais as dinâmicas que devem ser utilizadas? Quais os livros mais recomendados para determinada faixa etária? Como administrar as resistências que muitas famílias demonstram quando o tema da sexualidade é trabalhado na escola? Apesar de compreender as ansiedades contidas nessas perguntas que docentes e estudantes formulam na tentativa de resolver as questões mais emergentes que surgem no dia a dia da sala de aula, tenho procurado enfatizar a importância de discutirmos temáticas em torno da sexualidade de forma mais ampla, aprofundada e sistemática. Dessa forma, tenho proposto alguns temas que me parecem muito ricos para entendermos o quanto os comportamentos, no âmbito das sexualidades e das relações de gênero, são construídos histórica e socialmente, sendo a cultura um fator crucial nessa construção. Dentre os muitos temas possíveis, destaco a construção das identidades de gênero, discutindo os modos pelos quais são acionadas as expectativas em torno das masculinidades e feminilidades em determinadas culturas. Da mesma forma, considero produtivo problematizar os investimentos feitos em torno das identidades sexuais, em especial as inúmeras tentativas de reforçar a heteronormatividade e os desdobramentos daí resultantes, tais como a homofobia, a misoginia ou mesmo a heterofobia[7]. Um ponto interessante em toda essa dinâmica consiste em entender de que forma os movimentos reivindicatórios feministas, bem como os movimentos de gays e lésbicas foram se constituindo nas últimas décadas, e a importância dos Estudos Queer e das políticas pós-identitárias nesse contexto. As produções de Joan Scott (1995), Guacira Lopes Louro (1997; 1999; 2004), Judith Butler (2003) e Déborah Britzman (1996; 1999), dentre outras estudiosas, são referenciais importantes para se pensar essas questões a partir de uma ótica feminista. Outro ponto importante refere-se à história do corpo e da sexualidade, como bem demonstram as obras de Michel Foucault (1993), Thomas Laqueur (2001) e Jeffrey Weeks (1999), e o quanto, na contemporaneidade, corpos e sexualidades vêm passando por um amplo processo de espetacularização e performance, como referem Edvaldo Couto (2005) e Denise Sant’Anna (1995; 2002). Um tema que vem ganhando grande visibilidade nos últimos tempos, principalmente após a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) diz respeito à violência/abuso sexual nas suas mais variadas formas, tais como pedofilia, prostituição, bem como formas mais difundidas socialmente de visibilidade dos corpos infantis erotizados, aquilo que venho chamando de pedofilização como prática social contemporânea (FELIPE, 2005, 2006). Além disso, discutir a maternidade como aprisionamento (BURMAN, 1998), a paternidade e o aborto tornam-se fundamentais nos tempos atuais, especialmente quando se examinam as políticas públicas voltadas para as mulheres mães (MEYER, 2006, MEYER et alli, 2004). Por último, dentro desse conjunto de temas, um dos mais instigantes tem sido a história do amor romântico, que pode ser estudada e amplamente referida nos escritos de Octavio Paz (1994), Jurandir Freire Costa (1998), Denis de Rougemont (2003) e Mary Del Priore (2005)[8], bem como seus desdobramentos, estreitamente imbricados com a história do casamento, da conjugalidade e da família (MCFARLANE, 1990; BÉIJIN, 1985; ÀRIES, 1985). Cabe ainda lembrar que nos Parâmetros Curriculares Nacionais a sexualidade é considerada tema transversal, portanto, deve/pode ser discutida em todas as disciplinas, exigindo assim uma formação continuada do corpo docente. Desse modo, não só as disciplinas de ciências e biologia, mas outros campos do conhecimento como geografia, história, matemática, física, química, literatura, língua portuguesa, arte, religião, a partir de suas especificidades, poderiam contribuir significativamente para uma educação sexual mais ampla, para além dos limites restritos da prevenção. Como salienta Déborah Britzman (1999, p. 89)
O modelo de educação sexual que tenho em mente está mais próximo da experiência da leitura de livros de ficção e poesia, de ver filmes e do envolvimento em discussões surpreendentes e interessantes, pois quando nos envolvemos em atividades que desafiam nossa imaginação, que nos propiciam questões para refletir e que nos fazem chegar mais perto da indeterminação do eros e da paixão, nós sempre temos algo mais a fazer, algo mais a pensar. Nesses diversos textos, a preocupação não está em como estabilizar o conhecimento, mas em como explorar suas fissuras, suas insuficiências, suas traições e mesmo suas necessárias ilusões.
Convém lembrar que a problematização desses temas tem sido um desafio, pois eles mexem com muitas representações, sentimentos e contradições fortemente arraigadas nos discursos religiosos, científicos, jurídicos, pedagógicos, midiáticos, bem como nos demais discursos cotidianos presentes no senso comum. Minha proposta, então, é trabalhar no sentido de abalar um pouco algumas certezas tão fortemente instaladas sobre algumas dessas questões em torno da sexualidade e das relações de gênero. Nos limites desse artigo, elegi o amor-paixão romântico como tema a ser problematizado, tentando inicialmente caracterizar, ainda que provisoriamente, aquilo que considero como sendo algumas de suas principais representações. Seria possível desvincular amor de romantismo? Todo amor é necessariamente romântico? O que queremos dizer quando afirmamos que o romantismo faz parte do amor, ou ainda, que ele deve ser seu principal atributo? De que modo ele se constitui nas nossas vidas? De que forma lhe atribuímos sentido?
“De que é feito o amor?”
A música Dois corações, de André Sperling e Ronaldo Bastos, interpretada por Nana Caymmi, começa justamente com essa pergunta: de que é feito o amor? Obviamente os autores não conseguem responder do que exatamente o amor é feito ou como ele surge, mas descrevem o desenrolar de um sentimento que parece dar todo o sentido a nossa existência, apesar de alguns percalços. Exageros à parte, recorro à etimologia dessas palavras que compõem o cenário amoroso, para tentar compreender determinadas representações de amor/paixão que são amplamente veiculadas ao longo do tempo.
Amor – Do Latim amõrem. Afeição, carinho, simpatia (século XIII). Amorável (século XVII). Amoroso (século XIII). Desamor (século XIII). Amar – Do Latim amare (século XIII). Amabilidade – do Latim amãbilitã-sãtis. (século XVIII). Amado – do Latim amãtus (século XIII). Amador – do Latim amãtor-õris (século XX). Amante – do Latim amãte (século XV). Amásia – do Latim amasia. (1813). Amasiado. Amasiar (1844).[9]
Paixão – latim passio (sofrimento) – tem origem no radical latino ´pat` – que significa alterar-se emocionalmente, sofrer. O sentido de ´sofrimento` ganhou maior evidência quando foi aplicado à paixão (sofrimento) de Cristo. Só mais tarde (a partir do século XIII), a palavra foi utilizada combinada ao sentido de ´amoroso` (ou a outros sentidos além de ´sofrer`), ou seja: sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão. No latim, para designar-se algo equivalente (mas não idêntico) ao sentido amoroso da paixão eram utilizadas outras palavras, como líbido (volúpia) ou affectus (afeição). [10]
Romance – do latim tardio romanice, romanicus, ‘de Roma’: língua vulgar, derivada do latim, falada em certos países europeus após o declínio da dominação de Roma; enredo de coisas falsas ou inacreditáveis; fato ou episódio real, mas tão complicado que parece inacreditável; predomínio da imaginação sobre a razão; romântico: se diz do sujeito sonhador, devaneador, fantasioso, romanesco.[11]
Para muitos poetas, escritores, filósofos, pensadores, o amor é visto como um sentimento natural, intrínseco à experiência humana, portanto, universal, vivenciado potencialmente por todos os indivíduos, independente da época ou da cultura na qual estejam inseridos. Também ele é visto como um sentimento arrebatador, que dá sentido à própria existência, levando os sujeitos que o experimentam a terem uma sensação de extrema felicidade, completude e êxtase. Há, nessa perspectiva, uma idealização e super valorização não só do próprio sentimento amoroso, mas também da pessoa que ama e do ser que é amado. No entanto, tais representações não se constituem numa unanimidade, pois para muitos, o amor é regido pela lógica da racionalidade. Jurandir Freire Costa (1998, p. 170) lembra que
A imagem do amor transgressor e livre de amarras é mais uma peça do ideário romântico destinada a ocultar a evidência de que os amantes, socialmente falando, são, na maioria, sensatos, obedientes, conformistas e conservadores. Sentimo-nos atraídos sexual e afetivamente por certas pessoas, mas raras vezes essa atração contraria os gostos ou preconceitos de classe, “raça”, religião ou posição econômico-social que limitam o rol dos que “merecem ser amados”. ...O amor é seletivo como qualquer outra emoção presente em códigos de interação e vinculação interpessoais.
Autores como Rougemont (2003), Bauman (1995) e Octavio Paz (1994) possuem uma visão bastante crítica e menos idealizada do amor, ressaltando os aspectos históricos, sociais e culturais de sua constituição. Rougemont, por exemplo, fez severas críticas ao amor romântico na literatura ocidental, que exaltava a idéia de sofrimento, infelicidade e morte. Tal concepção de amor, amplamente veiculada na literatura, teve suas origens na religião (Deus como um ser Supremo, inatingível, que deveria ser contemplado). Nessa perspectiva, o amor se assemelharia ao sentimento religioso de amor a Deus, portanto, de certa forma inacessível. Já para Octavio Paz (1994) o amor pode ser entendido como a metáfora final da sexualidade, onde o sexo seria uma espécie de componente biológico do amor, e o erotismo expressaria a dimensão humana da sexualidade, mais ligado à imaginação, à fantasia. Por outro lado, autores como Bauman (1995) pontuam a ambivalência do amor, colocando-o como incerto e inseguro. Talvez seja interessante pensar o quanto as relações amorosas são instáveis, ao contrário das inúmeras tentativas que fazemos de domá-las, confinando-as a um ideal de estabilidade – tanto do sentimento amoroso quanto da relação que se estabelece a partir daí. Em quais circunstâncias podemos caracterizar o amor como romântico? Entendo que tal sentimento pode ser nomeado dessa forma quando regido por uma idealização que se estende aos seguintes aspectos: a idéia de intensidade (em si mesmo e no outro, para quem o amor se destina) e de verdade, a concepção de completude, de eternidade e de entrega.
Das intensidades que o amor aciona
A vivência amorosa é de tal ordem que o sujeito tem a pretensa ilusão de que nunca ninguém foi ou será capaz de sentir o amor com tamanha intensidade, força e dedicação. Nesse sentido, há aqui uma espécie de ilusão de exclusividade, na medida em que o indivíduo que experimenta o amor/a paixão tem a sensação de que só ele ama com tal profundidade, como se ninguém jamais tivesse desfrutado desse sentimento (pelo menos daquela forma). Do ponto de vista de daquele que ama ou que experimenta esse estado de paixão, trata-se de um amor verdadeiro e inquestionável. Portanto, intensidade e verdade se fundem nessa perspectiva idealizada de amor. A intensidade da experiência amorosa também se dá na direção do ser amado, como se nunca ninguém o tivesse amado daquela forma. As expressões utilizadas para designar tal experiência costumam ser bastante trágicas e contundentes: “eu não existo sem você”, “você é meu mundo”, “minha razão de existir”, “nasci pra te fazer feliz”, “nada nesse mundo levará você de mim” e assim por diante. Por outro lado, ao mesmo tempo em que o amor é tido como uma experiência mágica, especial, capaz de trazer um profundo bem-estar a quem o experimenta, especialmente quando se é correspondido, ele carrega consigo, em alguma medida, sentimentos de angústia, fragilidade e medo, com a possibilidade da perda do amor (certa incapacidade de amar) ou do ser amado. Assim como não sabemos muito bem de que forma ele se instala, também não sabemos de que forma esse sentimento tão avassalador se esvai ou mesmo porque ele desaparece com o tempo, embora muitas vezes a pessoa amada continue sendo especial, possuidora de muitas qualidades. Há, portanto, uma insegurança intrínseca ao amor, pois da mesma forma que não podemos dar explicações plausíveis para sua instalação em nós, não sabemos muitas vezes justificar racionalmente porque ele simplesmente desaparece depois de algum tempo. Por que amamos justamente determinada pessoa, se há tantas outras “melhores”, mais interessantes, mais inteligentes, mais bonitas, mais bem sucedidas, mais carinhosas, mais disponíveis afetivamente? Podemos dizer ainda que os/as apaixonados/as, de certa forma, são seres narcísicos para o bem da paixão, ou seja, durante esse estado inebriante de apaixonamento, o outro parece não existir, na medida em que é apenas o objeto da paixão, “coisa” destinada a dar suprimento à satisfação dos desejos do sujeito apaixonado. Passado o estado da paixão, surge o outro, o diferente de mim, com todas as suas fragilidades e imperfeições. O outro, que antes era objeto do meu amor, passa a ser visto como desprovido de atrativos. Como aponta Solomon (1991), o valor que atribuímos ao ser que amamos não está nele, objeto do nosso amor, mas só se instala porque simplesmente amamos. Não se trata aqui de dizer que os sujeitos apaixonados estão fora da realidade, mas que eles, no estado de paixão, criam uma outra realidade. Talvez a pergunta mais interessante para nossa reflexão não esteja pautada na busca insana sobre as origens do amor ou da paixão, mas na problematização das formas pelas quais amamos, ou ainda como administramos nossos desejos afetivo-sexuais e quais as estratégias e pressões sociais que se estabelecem para que transformemos nossos sentimentos em materialidade relacional, através do casamento, da conjugalidade e de todos os outros compromissos daí advindos.
“Cadê o amor, cadê?” A ilusão de completude
Em nossa cultura existem vários ditos populares que enaltecem a idéia de completude entre as pessoas que se amam, muitos deles provenientes de concepções religiosas e sobrenaturais. Talvez a expressão mais conhecida entre nós seja “almas gêmeas”, alimentada pela idéia de karma, reencarnação, destino (“Meu amor, nosso amor estava escrito nas estrelas”, já dizia a música cantada por Tetê Espínola). Outros ditos e ditados populares bem humorados, como por exemplo, “tampa da panela”, “há sempre um chinelo velho para um pé descalço”, “metade da laranja”, são bastante corriqueiros entre nós e expressam, de certa forma, esse desejo de que alguém nos complete e nos transforme em seres melhores, especiais, justamente porque amamos. Tal idéia de completude é acionada sob dois aspectos: primeiro, se não amamos, não estamos completos, algo nos falta. Segundo, depositamos no outro, no ser amado, toda a responsabilidade da nossa felicidade. O outro é, dessa forma, revestido de um poder absoluto, como se ele, e somente ele, fosse capaz de nos preencher. Sem o ser amado estamos destinados à falta, a infelicidade. Sem aquele que supostamente nos completa, estamos vazios, aniquilados. Tal concepção leva, muitas vezes, os sujeitos a conduzirem suas vidas pautados não em sua própria trajetória (profissional, emocional, etc), mas alicerçados em projetos onde o outro é o centro e a razão de ser. Especialmente as mulheres, historicamente têm construído suas vidas através de sucessivas renúncias, em função do outro. Almira Rodrigues e Sílvia Yannoulas (1998, p. 66) observam que a identidade feminina se estabeleceu “com base no amor/entrega, do ser para os outros, da heteronomia, em um contrato temporalmente infinito”. Muitos discursos, desde o início do século, procuraram fazer de tal argumento uma verdade universal e imutável. Dar-se de forma incondicional, dedicando-se à família, sendo a principal responsável por sua manutenção. As representações de felicidade e completude através do outro são tão contundentes, que em geral, quando a pessoa amada, objeto e fiel depositária dos nossos mais profundos sentimentos nos falta, ou simplesmente se vai, o que nos resta? Apenas o vazio e alguma lembrança? Ao depositarmos todas as nossas fichas no outro como principal responsável pela nossa felicidade e equilíbrio emocional (alguns apaixonados chegam mesmo a dizer que o amado é o ar que eles respiram!) podemos ser surpreendidos ou tomados por uma estranha sensação de esvaziamento em caso de rompimento da relação. Como costumamos administrar esses rompimentos, que geram muitas vezes inúmeros ressentimentos, mágoas, frustrações e até mesmo violência?
Eterno idéia de eternidade: para sempre ou infinito enquanto durar?
A idéia de indissociabilidade entre amor e eternidade continua presente em muitos discursos, especialmente o religioso, ainda que, na prática, com as diversas transformações ocorridas no âmbito das relações sociais, tenhamos hoje certa democratização e um afrouxamento nas relações afetivo-sexuais. O amor é percebido como é um sentimento tão agradável e bom de se experimentar, principalmente quando se é correspondido, que temos o desejo (e certamente é mais um desejo do que uma possibilidade) de que tal sentimento se eternize (até porque dá muito trabalho começar tudo de novo). O belo soneto da fidelidade de Vinícius, repetido à exaustão, especialmente na parte em que diz “que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, vem expressar de modo muito singular o tom dessas transformações nas relações amorosas. No entanto, apesar de presenciarmos inúmeras situações que nos falam da transitoriedade do amor, de sua impermanência e instabilidade, ainda assim muitos indivíduos continuam pautando suas vidas, no sentido mais concreto da existência, sob a ótica das idealizações que se pretendem eternas. Alguns discursos religiosos e mesmo grande parte dos discursos midiáticos costumam reforçar a idéia de um amor eterno, que deve ser buscado e mantido incessantemente. ro.
O amor é entrega, renúncia, dedicação... mas para quem?
Vera Lucia Pereira Alves (2005), em sua tese de doutorado sobre livros de auto-ajuda que ensinam a como conseguir e manter um relacionamento amoroso, mostra o quanto esse tipo de material produz uma pedagogia voltada especialmente para as mulheres, exigindo delas a árdua tarefa de se responsabilizarem pela manutenção da relação. Essa entrega implica constantemente em procedimentos que visam manter “a chama do amor” sempre acessa (necessidade de agradar o amado, por exemplo). Em muitas revistas e livros recentes ou não, é possível observar uma série de conselhos destinados às mulheres, reforçando a idéia de que elas são possuidoras de uma capacidade natural que as coloca na posição de cuidadoras em potencial (da casa, dos filhos, do marido, dos pais, dos amigos, etc). Por outro lado, tais procedimentos para a manutenção do amor, mais especificamente da relação, e essa suposta entrega que é acionada quando se ama, faz com que muitos indivíduos pautem seus relacionamentos amorosos a partir de uma lógica possessiva, que não dá espaço para individualidades. Tal perspectiva leva a comportamentos de controle sobre o outro, em um constante monitoramento que se expressa através de ações, tais como: vasculhar objetos pessoais do amado - carteira, celular, contas bancárias, orkut, e-mails (alguns casais possuem até mesmo um e-mail conjunto!). Há aqui a idéia de que entre o casal não pode/deve haver segredos, e sendo assim, não há, conseqüentemente, muito espaço para o exercício da individualidade. Dessa forma, é muito comum que os casais apaixonados ou simplesmente casados (mas não necessariamente apaixonados) tenham conta bancária conjunta, saibam as senhas um do outro, façam os mesmos programas juntos, tenham o mesmo grupo de amigos, etc. Em nome de uma suposta transparência na relação, muitos casais se obrigam a contar tudo um para o outro, prestando uma espécie de relatório diário sobre cada passo, que porventura, pretendam dar. Tal sentimento de posse e de controle sobre o outro, resulta, muitas vezes, em situações de violência, como apontam as estatísticas em torno da agressão física e psicológica contra as mulheres, bem como na dominação feminina sobre os homens. Talvez seja interessante pensar, especialmente no âmbito de uma proposta de educação para a sexualidade nas escolas, por que, afinal de contas, o relacionamento amoroso traz consigo a idéia de que não deve haver segredos um para o outro? É interessante observar que o amor romântico pressupõe uma entrega incondicional de si mesmo para o outro e uma cobrança para que o outro também tenha os mesmos propósitos. Tal dedicação e cumplicidade, no entanto, nem sempre são correspondidas, como nos mostram os dados referentes aos altos índices de contaminação pelo vírus HIV em mulheres casadas, que por terem essa condição, acham que podem confiar cegamente no parceiro (MEYER et alli, 2004). Outro aspecto que merece nossa reflexão diz respeito ao fato de que a vivência do amor deve ter no casamento o seu ápice, ou seja, para provar de fato que amamos o outro, precisamos mostrar que desejamos viver junto com aquela pessoa. A opção de não querer se casar coloca o sujeito sob suspeita (os homens, em especial, quando chegam a certa idade e não querem se casar são vistos com desconfiança – ou são gays ou são imaturos! Já as mulheres que não querem se casar são vistas como estranhas, devem ter algum problema, principalmente se não desejam ter filhos). Ou ainda: se a pessoa diz que ama, mas não quer casar, é como se ela não amasse o suficiente. Tais situações demonstram a dificuldade de pensarmos o amor de forma isolada, uma vez que ele está sempre referido à conjugalidade e à própria história da família.
Das impermanências
As questões até aqui levantadas podem ser muito produtivas para se pensar a cultura e a forma como aprendemos a lidar com nossos sentimentos, como gerenciamos nossas escolhas afetivas. Como salienta Costa (1998, p. 12),

O amor é uma crença emocional e, como toda crença, pode ser mantida, alterada, dispensada, trocada, melhorada, piorada ou abolida. O amor foi inventado como o fogo, a roda, o casamento, a medicina, o fabrico do pão, a arte erótica chinesa, o computador, o cuidado com o próximo, as heresias, a democracia, o nazismo.
Como uma construção histórica e cultural, o amor, a paixão, bem como seus desdobramentos em termos de relação, merecem ser amplamente discutidos na perspectiva de uma educação para a sexualidade, e aqui utilizo essa expressão por entender que ela pode acionar discussões mais abrangentes quando se trata de refletir sobre nossos prazeres e desejos, não se restringindo ao sexual como ato, mas proporcionando outras vias de discussão e temáticas diversas, para além do viés biologicista. O amor como tema de uma educação para a sexualidade, pode ser visto também, assim como quase tudo, na sua transitoriedade, inconstância e fluidez. Mas nem por isso, essa experimentação dos desejos e dos afetos se tornam menos valiosos (ainda que tenha data de validade!). Afinal, ninguém é o tempo todo e por tanto tempo tão interessante assim para o outro, embora essa situação de desfalecimento do amor ou da paixão seja um duro golpe nas nossas identidades tão narcísicas que aprendemos a cultivar. Como nos lembra o compositor Jorge Drexler, em sua música Sanar
“Y nadie sabe porqué um día el amor nace ni sabe nadie por que muere el amor um dia es que nadie nace sabiendo, nace sabiendo que morir, también es ley de vida”.

Referências bibliográficas
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ALVES, Vera Lucia Pereira. Receitas para a conjugalidade: uma análise da literatura de auto-ajuda. (Tese de Doutorado). UNICAMP, 2005.
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[1] Coordenadora do GEERGE – Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero – do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de Educação da UFRGS. Texto apresentado no III Seminário Corpo, gênero, sexualidade – discutindo práticas educativas, na UFRGS (16-18 de maio/2007), e publicado no livro: RIBEIRO, Paula R. C; SILVA, Méri R. S; SOUZA, Nádia G. S.; GOELLNER, Silvana V.; FELIPE, Jane (org.). Corpo, gênero e sexualidade: discutindo práticas educativas. Rio Grande: Editora da FURG, 2007. p. 31-45.[2] A música já foi gravada por importantes nomes da MPB como Elis Regina, Ed Motta e outros.[3] Na perspectiva pós-estruturalista, conhecer e representar são processos inseparáveis. A representação – compreendida aqui como inscrição, marca, traço, significante e não como processo mental – é a face material, visível, palpável do conhecimento (SILVA, 1999, p.32).
[4] Recentemente me deparei com um catálogo de lançamentos editoriais onde constava o livro “Como arranjar marido depois dos 35”, de Rachel Greenwald (Sextante, 2004). Interessante notar que a maioria desses livros se direciona ao público feminino.[5] O conceito de casamento deve ser aqui entendido em seu sentido mais amplo, ou seja, de co-habitação, não necessariamente um casamento legalizado, “no papel”, o que possibilita incluir as relações homossexuais nessa discussão.[6] No curso de Pedagogia da UFRGS venho oferecendo há alguns anos a disciplina Educação sexual na escola, disponibilizando alguns dos resultados de estudos desenvolvidos na linha de pesquisa Educação, sexualidade e relações de gênero, do Programa de Pós-Graduação em Educação.[7] De modo muito resumido, podemos dizer que o conceito de homofobia pode ser caracterizado como a aversão aos homossexuais e a misoginia refere-se às manifestações de ódio ou desprezo a todo e qualquer comportamento que possa parecer feminino (BLOCH, 2005). Já a heterofobia refere-se à discriminação por parte de homossexais em relação aos hetero (BALESTRIN, 2005).[8] Ver ainda as obras de Arent (s/d), Alberoni (1995), Ingeneiros (1997), Finzi (1998), Matos (2000), Le Goff (2003) e Bauman (2004).[9] Ver CUNHA, 1982, p. 37-41.[10] Ver NEVES, 2001.[11] Ver VIARO, 2004.

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